A voz do povo é a voz de Deus?

Existe um ditado popular muito antigo que irá dizer que a voz do povo é a voz de Deus. Essa expressão é oriunda do Latim (vox populi, vox dei) e é muito conhecida na Grécia antiga e pelos romanos dos tempos de Jesus. Será que essa afirmação é uma verdade absoluta? No artigo de hoje traremos textos bíblicos que trarão reafirmação ou negação deste ditado popular.

1° Caso – o povo solicita a monarquia em Israel:
“Quando envelheceu, Samuel nomeou seus filhos como líderes de Israel. Seu filho mais velho chamava-se Joel; o segundo, Abias. Eles eram líderes em Berseba. Mas os filhos dele não andaram em seus caminhos. Eles se tornaram gananciosos, aceitavam suborno e pervertiam a justiça. Por isso todas as autoridades de Israel reuniram-se e foram falar com Samuel, em Ramá. E disseram-lhe: Tu já estás idoso, e teus filhos não andam em teus caminhos; escolhe agora um rei para que nos lidere, à semelhança das outras nações. Quando, porém, disseram: Dá-nos um rei para que nos lidere, isso desagradou a Samuel; então ele orou ao Senhor.”
1 Samuel 8:1-6

Em um primeiro momento, o povo até tinha razão em pedir um rei, devido os filhos de Samuel não seguir o exemplo do pai. Mas, em um segundo momento, eles queria renunciar a uma teocracia, que Deus os governava, para solicitar um governo humano. Inclusive, Samuel cita vários exemplos de malefícios de uma monarquia, porém sem a comoção do povo:

“Samuel transmitiu todas as palavras do Senhor ao povo, que estava lhe pedindo um rei, dizendo: O rei que reinará sobre vocês reivindicará como seu direito o seguinte: ele tomará os filhos de vocês para servi-lo em seus carros de guerra e em sua cavalaria e para correr à frente dos seus carros de guerra. Colocará alguns como comandantes de mil e outros como comandantes de cinquenta. Ele os fará arar as terras dele, fazer a colheita e fabricar armas de guerra e equipamentos para os seus carros de guerra. Tomará as filhas de vocês para serem perfumistas, cozinheiras e padeiras. Tomará de vocês o melhor das plantações, das vinhas e dos olivais e o dará aos criados dele. Tomará um décimo dos cereais e da colheita das uvas e o dará a seus oficiais e a seus criados. Também tomará de vocês para seu uso particular os servos e as servas, e o melhor do gado e dos jumentos. E tomará de vocês um décimo dos rebanhos, e vocês mesmos se tornarão escravos dele. Naquele dia, vocês clamarão por causa do rei que vocês mesmos escolheram, e o Senhor não os ouvirá. Todavia, o povo recusou-se a ouvir Samuel e disse: Não! Queremos ter um rei. Seremos como todas as outras nações; um rei nos governará, e sairá à nossa frente para combater em nossas batalhas”.
1 Samuel 8:10-20

O povo não apenas não quis ouvir as palavras de Samuel, como quis ser como todas as outras nações. Um erro claro de um cristão é quando ele quer ser como os outros povos, sendo que Jesus nos chamou para sermos diferentes. Nesse primeiro caso, vemos claramente que a voz do povo não foi a voz de Deus.

2° Caso – a rebelião de Corá, Datã e Abirão:
“Corá, filho de Isar, neto de Coate, bisneto de Levi, reuniu Datã e Abirão, filhos de Eliabe, e Om, filho de Pelete, todos da tribo de Rúben, e eles se insurgiram contra Moisés. Com eles estavam duzentos e cinquenta israelitas, líderes bem conhecidos na comunidade e que haviam sido nomeados membros do concílio. Eles se ajuntaram contra Moisés e Arão, e lhes disseram: Basta! A assembleia toda é santa, cada um deles é santo, e o Senhor está no meio deles. Então, por que vocês se colocam acima da assembleia do Senhor?”
Números 16:1-3

Neste segundo caso, vemos uma rebelião sendo planejada entre Corá, Datã e Abirão quanto ao governo de Moisés. Quando estudamos o Pentateuco, os cincos primeiros livros da Bíblia, vemos que Deus chamou Moisés para ser o libertador e líder da nação de Israel rumo a terra prometida. Moisés não foi escolhido pelo povo e nem se autodenominou líder. Mas, foi escolhido por quem é Senhor e Soberano sobre todas as coisas. O que esses rebeldes e o povo estava fazendo? Indo contra uma ordem direta de Deus e uma autoridade atribuída por Deus. Qual foi o resultado? A terra abriu-se e engoliu todos aqueles que rebelaram-se contra a autoridade de Deus. Mais uma vez vemos que a voz do povo não é a voz de Deus.

3° Caso – a multidão abandona Jesus:
“Jesus lhes disse: Eu digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa. Este é o pão que desceu dos céus. Os antepassados de vocês comeram o maná e morreram, mas aquele que se alimenta deste pão viverá para sempre. Ele disse isso quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la? Sabendo em seu íntimo que os seus discípulos estavam se queixando do que ouviram, Jesus lhes disse: Isso os escandaliza? Que acontecerá se vocês virem o Filho do homem subir para onde estava antes? O Espírito dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu disse são espírito e vida. Contudo, há alguns de vocês que não creem. Pois Jesus sabia desde o princípio quais deles não criam e quem o iria trair. E prosseguiu: É por isso que eu disse a vocês que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai. Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.”
João 6:53-66

Nesta passagem vemos Jesus ensinando sobre o comer da sua carne e beber do seu sangue, algo que não era literal, mas que escandalizou muita gente. Jesus estava trazendo um ensinamento do que iria acontecer, do seu sangue ser derramado na cruz e sobre o que fazemos em sua memória, comendo do seu corpo e bebendo do seu sangue, não de forma literal, mas de forma simbólica. Jesus não estava apenas falando sobre o que aconteceria num futuro próximo, mas convidando a todos que estavam presentes a participarem desse sacrifício, alguns de forma literal, com a perseguição que iniciou na igreja, outras de forma simbólica, identificando-se com o sofrimento dEle. Mas, qual foi a reação da multidão? Foram embora sem entender o seu significado. Disseram não para Cristo e não para o seu chamado. Novamente vemos que a voz do povo não foi a voz de Deus.

4° Caso – a escolha por Barrabás:
“Por ocasião da festa era costume do governador soltar um prisioneiro escolhido pela multidão. Eles tinham, naquela ocasião, um prisioneiro muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reunido: Qual destes vocês querem que solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo? Mas os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos convenceram a multidão a que pedisse Barrabás e mandasse executar Jesus. Então perguntou o governador: Qual dos dois vocês querem que eu solte? Responderam eles: Barrabás! Perguntou Pilatos: Que farei então com Jesus, chamado Cristo? Todos responderam: Crucifica-o! Por quê? Que crime ele cometeu? Perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: Crucifica-o!”
Mateus 27:15-17,20-23

Esta situação talvez seja a mais triste escolha de toda a história. Jesus foi entregue por inveja aos romanos para ser crucificado. Os oficiais romanos ao não encontrarem nenhum erro ou falha em Jesus decide liberá-lo sem nenhum dano. Solicitam até que o povo escolhesse entre Jesus e Barrabás, um prisioneiro da época. O povo ao invés de escolher o Salvador, escolhem o prisioneiro, transformando esta situação na pior escolha da história da humanidade. Aqui vemos que não somente uma multidão pode fazer escolhas erradas, mas fazer escolhas que poderão se arrepender por resto das suas vidas. Definitivamente a voz do povo não é a voz de Deus. E podemos afirmar que na maioria das vezes o povo vai escolher algo que fere os princípios da Palavra de Deus.

Poderíamos trazer mais diversos exemplos negativos a respeito de escolhas erradas de uma multidão, mas por hoje quero apenas afirmar que devemos tomar cuidado com a escolha da maioria. Nem sempre a voz da maioria vai representar a vontade de Deus. Muito pelo contrário, a vontade de Deus é dito nas suas Escrituras e seguida por aqueles que a leem e buscam fazer a sua vontade. A multidão pode nos levar a fazer escolhas erradas, por isso, as nossas escolhas devem estar pautadas na vontade de Deus e naquilo que a Sua Palavra nos ensina.

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Sérgio Luiz
Sérgio Luiz

Apaixonado por teologia e pela bíblia. Pós-graduado em Estudos Bíblicos do Novo Testamento pela universidade Unicesumar. Coordenador e professor da rede de ensino de sua igreja local.

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